06/04/2015 11h45 – Atualizado em 06/04/2015 11h45
O mercado do boi gordo no Brasil continuará aquecido em 2015, com os preços pagos aos pecuaristas perto de patamares recordes, sustentados por uma oferta apertada e exportações fortes, em um cenário descolado da realidade de desaceleração da economia brasileira.
O preço da arroba bovina no Estado de São Paulo, uma das referências do mercado brasileiro, voltou a registrar recordes consecutivos no fim de março, apertando as margens de frigoríficos e do varejo. O indicador Esalq/BM&FBovespa do boi gordo atingiu 147,61 reais/arroba na terça-feira, um patamar recorde. A valorização é de mais de 17% em 12 meses.
“Tem um pouco de euforia com esses patamares de preço”, disse Leonardo Alencar, gerente-executivo de Inteligência de Mercado na Minerva Foods.
A explicação está principalmente na oferta apertada de bovinos, muito mais do que na demanda, dizem os especialistas.
O diretor de Relações com Investidores da JBS, Jeremiah O’Callaghan, lembrou que a partir de 2010 o setor frigorífico no Brasil vinha registrando margens bastantes razoáveis, o que estimulou o abate.
Os contratos futuros da BM&F Bovespa apontam a arroba do boi gordo acima de 150 reais em todo o segundo semestre.
O Brasil produziu aproximadamente 8,5 milhões de toneladas de carne bovina em 2014. Deste total, cerca de 81% ficaram no mercado interno e 19% foram exportados, segundo levantamento da Informa FNP. A lógica seria que os consumidores brasileiros, que absorvem uma fatia tão grande da produção nacional, pagassem pela carne o valor proporcional à alta do preço do boi gordo. No entanto, os analistas lembram que há uma forte resistência no varejo a preços mais elevados que os atuais, inclusive por causa da inflação em geral, que corrói o poder de compra da população.
Economistas projetam inflação acima da meta, juros elevados e uma retração de 1 por cento no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2015. “Todo esse cenário econômico… acaba criando uma expectativa de que o preço do boi está descolado em relação à economia, que está desacelerando, dando sinais negativos”, disse Alencar, da Minerva.
O setor de carne bovina do Brasil, projeta uma demanda aquecida no exterior, o que deverá contribuir para manutenção dos abates e dos preços elevados para o boi gordo ao longo de 2015. A forte desvalorização recente do real frente o dólar torna os produtos brasileiros mais atrativos para compradores externos e também encarece, na moeda local, produtos balizados em preços internacionais.
A provável abertura do mercado da China e um bom desempenho das aquisições de Rússia, Chile, Egito e Irã, por exemplo, deverão garantir bons embarques para a carne bovina brasileira este ano, disseram os especialistas.
A Abiec, associação que representa os frigoríficos exportadores, projeta embarques recordes de 1,7 milhão de toneladas de carne bovina em 2015, ante 1,56 milhão em 2014.
A estratégia de escoar para o exterior a produção que não for absorvida no mercado interno não é acessível para pequenos frigoríficos, que deverão sofrer bastante em 2015. A tendência, segundo os executivos dos grandes frigoríficos, é de muitas dificuldades para os pequenos em 2015, até com fechamentos de unidades. “Quem passar de 2015, fica (no mercado)”, projetou o executivo da Minerva.
O’Callaghan, da JBS, lembra que muitas redes de supermercados do Brasil já começam a demandar certos padrões na carne ofertada, sem contar as certificações e exigências necessárias para a exportação.
Mesmo assim, os executivos dizem que as grandes empresas não irão aproveitar a fragilidade das concorrentes menores para comprar frigoríficos, como já ocorreu em outros anos, uma vez que a capacidade ociosa ainda é muito grande no setor.
Fonte: Reuters / BeefPoint