03/09/2015 11h02 – Atualizado em 03/09/2015 11h02
O aumento da escala de produção é apontado como um ponto fundamental para o futuro dos pequenos produtores de leite, que no Rio Grande do Sul estão em grande parte na atividade. Conforme dados da Emater, 45% dos produtores entregam até 100 litros por dia, e 23% até 50 litros. A incorporação de tecnologia é considerada uma alternativa para reverter esse quadro. O tema foi discutido nesta quarta-feira, na segunda edição do ciclo Debates Correio Rural, promovido na Casa do Correio do Povo/Grupo Record/RS no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio.
O presidente do Sindilat, Alexandre Guerra, destacou que o consumo per capita de leite no país é de 54 litros por ano. Porém, quando se leva em conta os derivados, o consumo sobe para 178 litros. Mesmo assim, o índice está distante do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 220 litros por ano – o que demonstra um grande potencial para crescimento do consumo. “Se crescessemos 20 litros por pessoa ao ano, seja fluido ou nos produtos derivados, isso representaria 4 bilhões de litros, que é quase a produção do Rio Grande do Sul”, observou.
Para o assistente técnico da Emater Jaime Ries, os números demonstram que a cadeia do leite possui uma importância não apenas econômica, mas social. No Rio Grande do Sul, 84 mil produtores de leite estão vinculados à indústria. Os pequenos produtores, com até 100 litros/dia, representam cerca de 12% do volume recebido pela indústria. “Hoje temos esse desafio de qualificar a produção, melhorar a qualidade, melhorar a escala de produção, mas trabalhando a atividade leiteira da forma mais inclusive possível”, afirma. Uma das questões a serem trabalhadas é como motivar esses pequenos produtores para atingir uma produção maior com qualidade, frente a um cenário de dificuldades na sucessão. “A atividade do leite é penosa, requer muito esforço”, avalia.
O diretor de relações institucionais da Braskem, João Ruy Freira, destacou que a cadeia do leite é longa e inclui diversos elos, incluindo aquelas que oferecem tecnologia com o objetivo de qualificar a produção e a produtividade. Uma das alternativas de tecnologia que podem ser aplicadas à atividade é o filme técnico para embalagens de pré-secados. Segundo o diretor industrial da Extraplast, Rodrigo Gerling, trata-se de um filme que é aplicado para utilizar na substituição do feno como alimento para o gado. “A expansão das lavouras tem feito reduzir a área para plantio de pasto, isso está acontecendo bastante no mercado”, justifica Gerling. Ao mesmo tempo, há a necessidade de aumentar a quantidade de animais nas propriedades. “Esse produto é um facilitador para atender a essa quantidade de alimento que vai precisar na propriedade para o gado”, descreve.
No ramo de embalagens flexíveis para leite, a Erplasti, de Montenegro, trabalha com a produção de filmes flexíveis de empacotamento. Segundo o presidente da empresa, Valdir Erthal, a maior parte da produção é distribuída no Paraná, porém a empresa também conta com clientes no Rio Grande do Sul e em São Paulo.
A tecnologia de embalagens flexíveis vem ajudando a transformar a forma como o leite é consumido. A Plastrela, de Estrela, conquistou mercado produzindo filmes de sachê de pouche, no formato UHT, que permite conservar o produto até 120 dias fora da geladeira. ‘“No passado se utilizava muito a embalagem ‘barriga mole’, que ficava refrigerada com validade de sete a dez dias”, lembra o supervisor de vendas, Luciano Puccinelli. Esse produto, segundo ele, caiu um pouco em desuso a partir do momento em que o consumidor resolveu procurar um produto com maior praticidade. “Com isso buscamos fora do mercado brasileiro uma tecnologia que concorresse com as embalagens acartonadas”, explicou. O produto, segudo Puccinelli, tem um custo até 50% menor, “deixando assim uma margem melhor para a indústria, podendo até remunerar melhor o produtor”.
O coordenador da Câmara Setorial do Leite da Secretaria de Agricultura, Danilo Gomes, destacou que o leite tem virado um vilão, assim como foi, durante uma época, o ovo e a carne suína. “Existem restrições médicas, sim, mas elas tem que ser trabalhadas com cuidado. Temos que fazer uma interação muito grande com os profissionais da saúde”, observa.
O presidente da Comissão do Leite da Farsul, Jorge Rodrigues, destacou que a necessidade de ampliar o portfólio de produtos da cadeia do leite. Outro ponto abordado por ele foi a dificuldade de que as propriedades que produzem até 100 litros por dia consigam se manter. “Não adianta tirar um leite maravilhoso, com a sanidade total da vaca e não fazer o frio adequado. Começa aí o processo de qualidade.”
Para a analista técnica do Senar Márcia de Azevedo Rodrigues, além da questão da mão de obra, a falta de genética do rebanho também preocupa. “Às vezes são rebanhos mistos, com vacas que produzem muito pouco, e com o produtor sem conhecimento de como criar uma boa terneira e melhorar a qualidade do leite sem precisar aumentar o rebanho”, salienta.
Fonte: Correio do Povo