25/07/2016 11h18 – Atualizado em 25/07/2016 11h18
A adoção da integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) pode revolucionar o perfil das propriedades rurais. “Das grandes às pequenas, sem distinção”, enfatiza o pesquisador Carlos Eugênio Martins, da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG). Em Minas Gerais, pequenos produtores, como o pecuarista Márcio José de Resende, de Coronel Xavier, viram mudar suas chácaras radicalmente. “Isso aqui era só grama e rabo de burro (erva daninha invasora de pastos)”, lembra. “Hoje, tenho pasto recuperado, pastagem farta e uma safra de madeira para ser aproveitada.”
Na propriedade de 26 hectares, familiar, a adoção da ILPF aconteceu na safra 2009/2010. Leonardo Calsavara, daEmater-MG, entidade que participou da implantação do sistema no sítio, lembra que, naquela época, o custo por hectare da ILPF foi de R$ 2.200. “No primeiro ano, só a produção de milho foi suficiente para cobrir os custos iniciais e gerou um resíduo de R$ 600 por hectare”, diz.
Na propriedade, foram plantados milho, braquiária e eucalipto. As vacas leiteiras passaram a produzir 600 litros de leite por dia após três anos de implantação. “Foi possível preservar a Reserva Legal, pois a madeira (originária da desrama) tornou a fazenda autossuficiente em madeira.”
Em Mar de Espanha (MG), o produtor Vicente Machado também adotou o sistema. “Compramos o sítio em 1979 e, com o uso intensivo dos pastos, ele ficou degradado e eu sem dinheiro para recuperar a área, de 120 hectares”, diz. “Com a ILPF, foi possível recuperar os pastos e ter solo adubado para plantar milho e braquiária. Hoje, a vaca vem comer capim na ponta, não é mais tratada no cocho. É ela quem escolhe o que quer comer, quando quer e quanto quer comer. Só foi preciso mudar nossos hábitos.”
Dúvidas frequentes
1) É possível adotar o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta em pequenas propriedades?
A integração lavoura-pecuária-floresta é um sistema que adapta-se a qualquer tamanho de propriedade, desde que as condições edafoclimáticas (características do clima e solo) não sejam restritivas. É importante lembrar que o plantio consorciado de milho com capim (jaraguá e colonião), nas décadas de 1950 e 1960, foi prática comum na implantação manual de pasto nas “roças de toco”, portanto, pode ser adotada em pequenas áreas. Mas, em propriedades com uso intensivo de máquinas agrícolas e insumos, a escala de produção pode ser determinante da viabilidade econômica do sistema. É preciso ter planejamento eficiente, gestão competente e envolvimento de uma equipe multidisciplinar.
2) Existe um programa de financiamento ou linha de crédito para quem deseja adotar o sistema ILPF na propriedade?
A ILPF é uma das tecnologias incentivadas pelo Programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Programa ABC), criado em 2010 pelo governo federal e que concede créditos para quem adota técnicas agrícolas sustentáveis. A taxa de juros é de 5,5% ao ano. O prazo de pagamento pode chegar a 15 anos. O Programa ABC também incentiva a adoção de plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, recuperação de áreas degradadas, plantio de florestas e tratamento de resíduos animais.
3) Como selecionar a espécie florestal para compor o sistema? Existem outras espécies de árvores recomendadas para o sistema ILPF além do eucalipto?
As espécies arbóreas devem ser escolhidas de acordo com a adaptação ao local, arquitetura da copa, facilidade de estabelecimento, exigências do mercado, ritmo de crescimento, tipo de raiz, controle de erosão e escorrimento superficial de águas da chuva, sombra para animais e compatibilidade com pastagens e gado. A espécie de maior potencial de utilização em ILPF é o eucalipto, graças a seu rápido crescimento, oferta de clones adaptados a diferentes regiões, copa rala, elevado rendimento econômico e usos múltiplos com a produção de madeireiros e não madeireiros. Outras espécies sendo utilizadas são acácia, paricá, pinho cuiabano, mogno africano, cedro australiano, canafístula, grevílea ou pínus. Também há pesquisas com mogno brasileiro e teca.
4) Como determinar o espaçamento ideal de árvores e a quantidade de linhas e renques?
Existem arranjos diferentes, de acordo com perfil, localização e objetivos da propriedade. O arranjo mais simples e eficaz é o de aleias, em que as árvores são plantadas em faixas (linhas simples ou múltiplas) com espaçamentos amplos. A distribuição das faixas de plantio das árvores é realizada preferencialmente no sentido leste-oeste e deverá ser em curvas de nível, impedindo a erosão do solo e a perda de água por escoamento superficial.
5) Existem limitações físicas ou geográficas para a implantação do sistema ILPF, como geadas, seca ou terrenos declivosos, arenosos ou muito úmidos?
Em solos declivosos, a principal limitação é a mecanização, mas é possível o uso de implementos com tração animal e a distribuição das faixas de árvores deve ser realizada em curvas de nível. Nas demais situações, já existem conhecimento e tecnologias adaptadas para diferentes condições edafoclimáticas.
6) O produtor que adotar o sistema ILPF deve fazê-lo em toda a área?
Se o produtor não tem experiência com ILPF, recomenda-se começar em áreas menores para conhecer os processos e práticas necessárias e, além disso, minimizar riscos financeiros.
7) É verdade que o eucalipto retira muita água do sistema ILPF?
O eucalipto não consome mais água por unidade de biomassa produzida do que qualquer outra espécie vegetal. O consumo de água de uma floresta de eucalipto é em torno de 900 a 1.200 milímetros por ano.
8) O componente florestal (F) do sistema ILPF é obrigatório em todos os casos?
Não. O conceito de ILPF adotado pela Embrapa, por exemplo, engloba modalidades sem árvores (integração lavoura-pecuária) e com árvores.
9 Depois de quanto tempo é possível obter retorno econômico com a adoção da ILPF?
Em sistema de integração lavoura-pecuária, em dois anos é possível obter retorno positivo. Nos sistemas agrossilvipastoris, dependendo das práticas silviculturais adotadas, os retornos positivos podem ser obtidos entre quatro e oito anos.
Fonte: Embrapa