22/10/2020 13h37 – Atualizado em 22/10/2020 13h37
Imagem: Gazeta do Campo
Nesta quinta-feira, 21 de outubro, o Brasil já poderá realizar importações de soja e milho sem a necessidade de pagar tarifas por isso. A decisão foi publicada na última quarta, no Diário Oficial da União pelo Comitê-Executivo De Gestão (Gecex) da Câmara De Comércio Exterior (Camex). Durante uma live do Canal Rural, o analista de mercado da Safras & Mercado e o comentarista do Canal Rural, Miguel Daoud, conversaram com o editor do Projeto Soja Brasil, Daniel Popov, sobre os impactos que a falta de soja e milho podem trazer ao país.
Inicialmente o debate abordou os impactos que a retirada das tarifas de importações podem trazer ao país. Segundo o analista da Safras & Mercado, a tendência é de poucas mudanças para a soja.
“Acho que essa medida trará impactos pontuais para a soja. O Brasil pode trazer algum volume dos Estados Unidos. Existe essa possibilidade e a conta fecha. Mas vai depender das oportunidades. Agora por exemplo, os prêmios norte-americanos pela soja estão subindo em plena colheita. Mas trazendo por Paranaguá (PR) os preços ficariam parecidos com os que vemos aqui e não mais baratos”, afirma Gutierrez.
Lembrando que a retirada das tarifas terá impacto nas compras fora do Mercosul, pois aqui já não há tarifas.
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“Vale ressaltar que o Paraguai não tem muito mais soja para vender. A Argentina até tem, mas os produtores estão segurando a soja, pois os problemas cambiais do país fazem com que a soja valha dólares e o produtor não quer transformar isso em pesos. Por isso considero que há chance de trazermos alguns volumes fora do Mercosul, mas não diria muito não. Como a soja está sendo plantada com atraso e, consequentemente, teremos atraso na colheita, possivelmente o desabastecimento de soja terá seu auge em janeiro de 2021”, comenta o analista.
Importação de i milhão de toneladas de soja
Para se ter uma ideia, de janeiro e setembro deste ano o Brasil já importou 565 mil toneladas de soja, 189% a mais que as 145,5 mil toneladas de 2019. Uma curiosidade é que desde 2014 o país não comprava tanta soja neste período até setembro.
“Hoje prevemos que o Brasil feche o ano com 850 mil toneladas de soja importada, isso sem considerar essa mudança na tarifa. No meio do ano até prevíamos chegar a 1 milhão de toneladas, mas como as compras perderam ritmo, reajustados para baixo, o que fecha a conta para o Brasil e ainda sobre um pouco de estoque. Agora com a retirada das taxas, dá para estimar que o Brasil pode importar até 1 milhão de toneladas. Mais do que isso o Brasil não precise,, talvez, pois com isso o país já terá um estoque um pouco maior do que antes era previsto”, ressalta Gutierrez.
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O analista ainda fez questão de reiterar que o auge da falta de soja no país será em janeiro de 2021, prazo previsto para encerrar o acorde que zera a tarifa de importação da soja.
“Como falei, o auge da falta de oferta será em janeiro de 2021 e ali o consumo interno pode surpreender, pois a safra nova ainda não estará entrando e o país talvez precise comprar mais soja para que a indústria brasileira honre os compromissos, mas aí já entra na conta de 2021 e não 2020”, afirma.
Indústrias em apuros e preços caros
Durante o debate, o comentarista do Canal Rural, Miguel Daoud lembrou um detalhe que pode trazer um alento para quem acredita que a queda das tarifas poderia baratear a soja.
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“Dentro disso, dessa falta de soja, vale comentar que as indústrias têm um prazo para compra e recebimento do produto. Isso necessita de um planejamento. Pois com essa volatilidade cambial as indústrias não podem entrar desprotegidas e por isso precisam fazer um hedge, o que encarece um pouco mais essa importação. Ou seja, mesmo que tenha esse produto em algum lugar ele não vai chegar ao Brasil barato”, diz.
Preços da soja em 2021 acima de R$ 100
Com a chance de entrar o novo ano já com falta de soja para atender o mercado interno, o analista da Safras & Mercado acredita que os preços para o próximo ano não cairão tanto para o produtor.
“O câmbio seguirá sendo um fator dominante que explicará onde irão os preços em 2021, além é claro de possíveis problemas climáticos. Então acredito que posso falar tranquilamente que em 2021 não teremos soja abaixo dos R$ 100 por saca. Pelo menos nos primeiros meses do ano, isso deve acontecer”, diz Gutierrez.
O apresentador da live e editor do Projeto Soja Brasil, Daniel Popov, aproveitou o tema para trazer um questionamento pertinente.
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“Levando em consideração o que aconteceu nesta safra, onde os produtores venderam a soja no começo do ano e depois viram os preços dobrarem em relação ao que receberam, há chance de os sojicultores segurarem as vendas após a colheita, esperando preços mais altos? Com isso, há chance de o Brasil ter que estender o prazo dessa tarifa zerada para importação?”, diz.
“Acho que há grande chance de isso acontecer. Até porque os produtores já venderam mais da metade da safra nova, um patamar recorde para o período. Então com tanto já negociado e um risco climático batendo a porta, é natural o produtor segurar um pouco as vendas até para não correr risco de não ter o que entregar. Ou seja, isso pode trazer impactos nas vendas durante a entrada da safra”, comenta Gutierrez.
Brasil pode taxar as exportações?
Antes de mais nada não há qualquer indício do governo de que o Brasil possa taxar as exportações de soja e outros produtos agrícolas. Entretanto, durante uma análise fortuita, o comentarista do Canal Rural Miguel Daoud levantou a chance de isso acontecer, diante do cenário que se desenha no país.
“Não creio que essa retirada de taxas das importações vai funcionar. Mas há chance de a pressão sobre os preços dos alimentos continuar e tudo subir. Será que se o governo se sentir acuado, sem recursos e ver a inflação subindo, eles não irão taxar as exportações? Retirar a lei Kandir. Se isso acontecer será um tremendo tiro no pé. Não estou dizendo que isso vai acontecer, mas sim, uma coisa para o produtor pensar, refletir se as decisões tomadas na comercialização são as mais acertadas”, comenta.
Por fim o analista de mercado da Safras não descartou a possibilidade.
“Não acho que a chance de taxar as exportações é pequena. Temos uma crise fiscal no Brasil e taxar as vendas ao exterior é colocar recursos para dentro da União. Faria sentido eles tomarem essa medida absurda”, diz.
Por: Alexandro Santos
Fonte: Canal Rural