28/10/2020 14h14 – Atualizado em 28/10/2020 14h14
Imagem: Gazeta do Campo
Para quem trabalha com pecuária, saber quando a pastagem está pronta para receber os animais e a hora certa de retirá-los para que as plantas se recuperem é fundamental. Foi pensando nisso que pesquisadores do Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Epagri/Cepaf) desenvolveram o bastão forrageiro: uma espécie de régua que, colocada ao lado das plantas dentro da pastagem, indica a altura ideal para o uso (pastejo) e a altura mínima da pastagem para a retirada dos animais. O bastão contém informações sobre diversas espécies forrageiras, facilitando a decisão sobre a entrada e a saída dos animais da área para uma elevada produção de pasto.
“A ideia surgiu após reuniões com colegas extensionistas, quando se constatou que os limitadores produtivos mais frequentes nas propriedades são os erros de manejo nas pastagens e a grande variação de espécies forrageiras que são utilizadas pelos produtores”, conta o pesquisador Felipe Jochims. A equipe decidiu, então, juntar os dados produzidos nas unidades de pesquisa da Epagri com dados científicos para desenvolver um instrumento simples, utilizando marcadores coloridos para demonstrar como manejar cada espécie da forma mais produtiva e sustentável possível.
O bastão traz orientações para as espécies cultivadas mais importantes em Santa Catarina: catarina-gigante (missioneira-gigante), tifton 85, 68 e jiggs, hemártria, estrela-africana, capim-áries e aruana, principais cultivares de braquiárias, capim-elefante-pioneiro, capim-elefante-anão-Kurumi e as anuais de inverno aveia e azevém. As alturas de manejo levam em consideração características fisiológicas das plantas, quantidade de folhas novas, capacidade de interceptar radiação solar (para fazer fotossíntese), velocidade de ingestão de pasto pelos animais e o equilíbrio entre o crescimento do pasto e o volume que o animal retira da planta.
Para a confecção do bastão, foi feito um levantamento de dados publicados pelas unidades de pesquisa da Epagri e também na literatura científica. “Além dos dados próprios, utilizamos 39 artigos científicos e duas teses de doutorado para a obtenção dos valores de altura que estão no bastão”, diz Felipe.
Sinal verde
Com faixas nas cores amarelo, verde e vermelho, o instrumento faz alusão a um semáforo. A faixa amarela indica que a altura ideal de manejo foi ultrapassada. A altura dessa linha significa redução da qualidade da pastagem e aumento da dificuldade dos animais para comer. O verde é a faixa de altura indicada para pastejo. A parte mais alta da linha indica que a pastagem está na altura ideal. A parte mais baixa, em divisão com o vermelho, indica que o limite mínimo de folhas foi atingido e que os animais devem ser retirados para que a pastagem apresente a máxima taxa de crescimento. Quando o pasto está na altura da linha vermelha, significa que não deve ser usado, pois o resíduo está muito baixo, com poucas folhas, e vai prejudicar o rebrote e a estabilidade das plantas.
Para definir o momento de entrada dos animais na pastagem, a medida deve ser feita em, pelo menos, seis pontos do potreiro. Quanto maior for a área, maior será a quantidade de pontos medidos. Se mais da metade das medidas estiver na parte alta da barra verde do bastão, a pastagem está pronta para receber os animais.
Adequação do manejo
Felipe Jochims ressalta que, quando as pastagens são manejadas de forma muito intensiva, deixando um resíduo de pasto muito baixo, as alturas indicadas no bastão para entrada dos animais não são atingidas logo no início. No caso da missioneira-gigante, por exemplo, o ideal é fazer a entrada com 26 a 28cm e a saída com 12 a 14cm. “Essas alturas são as ideais, mas logo após começar a adequação do manejo, pelo histórico de utilização, a pastagem não irá atingir os 28cm. Será necessário fazer a entrada com alturas menores e ir adequando a pastagem para atingir as condições ideais. As plantas apresentam o que chamamos de plasticidade fenotípica, que é sua adaptação ao manejo corriqueiro que vem sendo imposto”, explica. De acordo com os dados levantados, no terceiro ou no quarto uso, as pastagens já recuperam a altura ideal de manejo, aumentando a produtividade em mais de 50% quando comparado a esse manejo intensivo “sem resíduo”.
A ferramenta é usada pelos técnicos da Epagri para orientar os produtores. “A régua não pode ser comercializada, mas nada impede os produtores, caso tenham interesse, de ir ao escritório municipal e fazer uma réplica caseira do bastão, utilizando as informações que estão impressas ali, inclusive marcando as alturas de manejo das espécies desejadas no cano da bota”, diz Felipe. Para produzir o próprio bastão forrageiro, basta entrar em contato com a Epagri/Cepaf e pedir a “arte” do bastão. Basta imprimir na gráfica em um adesivo, que já vai nas medidas corretas para ser colado em um cano rígido de PVC de 32mm.
O instrumento serve para bovinocultura de leite e de corte, ovinocultura e até para manejo de pastagens em regime de cortes (para produção de feno, por exemplo). “A altura é baseada principalmente nas características e respostas fisiológicas para a otimização da produção do pasto com a maior qualidade possível e sem prejudicar o consumo pelos animais”, esclarece o pesquisador.
O que significa cada cor do bastão forrageiro
Faixa amarela: Indica que a altura ideal de manejo foi ultrapassada. Apesar de ser pouco prejudicial à pastagem em curto prazo, quanto mais distante o pasto estiver da divisão com a faixa verde, haverá aumento na senescência de folhas e redução na qualidade da pastagem, assim como na estrutura do dossel, causando pequena queda no desempenho animal.
Faixa verde: Indica a condição adequada de uso, aquela que apresenta melhor consumo e desempenho animal e manutenção da produtividade da pastagem. O momento da entrada dos animais na pastagem deve ser na altura máxima da coluna verde. No caso de manejo em potreiros (método contínuo), a altura de manejo indicada é “na metade” da parte verde, ajustando a carga animal de acordo com o aumento ou a redução da altura.
Faixa vermelha: Indica que a pastagem está com resíduo baixo e deve estar em descanso para recuperação de uma massa adequada de folhas. Não se deve utilizar a pastagem nessa faixa, pois ocasiona o superpastejo, comprometendo o rebrote (inicialmente na velocidade de crescimento) e, a longo prazo, a persistência dela.
Por: Alexandro Santos
Fonte: Epagri SC