26/11/2020 14h58 – Atualizado em 26/11/2020 14h58
Por: Gazeta do Campo
O Rabobank, multinacional holandesa bancária e de serviços financeiros em agronegócio, publicou o estudo sobre as perspectivas para o agronegócio brasileiro em 2021 no qual destaca que a contração dos estoques de passagem dos Estados Unidos no ciclo 2020/21 e demanda internacional aquecida, com destaque para importações muito acima do normal da China (24 milhões de toneladas), tendem a dar suporte as cotações em Chicago em 2021. As perspectivas de preços médios devem variar entre US$ 4,30 e US$ 4,50/bushel ao longo de 2021.
No Brasil, além do suporte do mercado internacional, a taxa de câmbio e a demanda interna crescente também tendem a manter os elevados níveis de preços locais. Estoques apertados do ciclo 2019/20 só seriam recompostos com a entrada da oferta do milho segunda safra 2020/21, cuja produção ainda tem grandes incertezas por fatores climáticos.
Demanda forte e incertezas da oferta
O ano de 2020 registrou o recorde de preços nominais (e reais) do milho no mercado brasileiro, com o indicador Esalq/BM&F superando a barreira de R$ 80/saca no segundo semestre. O suporte às cotações, mesmo com a entrada da oferta do milho segunda safra, é resultado da valorização do cereal no mercado internacional, desvalorização cambial, mercado doméstico aquecido e retração vendedora, segundo a análise do Rabobank na publicação Perspectivas para o agronegócio brasileiro em 2021.
No mercado internacional, após quase tocarem os US$ 3/bushel e atingirem os menores patamares em 12 anos, os preços do milho em Chicago (CBOT) tiveram forte escalada rompendo a barreira dos US$ 4,20/bushel. Após um bom início, o desenvolvimento das lavouras americanas acabou sendo prejudicado pelo clima e, após perspectivas preliminares de que poderiam superar a barreira dos 400 milhões de toneladas, os EUA colheram 368,4 milhões de toneladas de milho em 2020.
Por outro lado, apesar da demanda de milho pela indústria de etanol americana ter sido negativamente impactada pelas restrições impostas pela pandemia da Covid-19, as exportações do cereal devem ter expressivos aumentos
na safra 2020/21 no comparativo com o ciclo anterior (de 45,2 milhões de toneladas para 65,4 milhões de toneladas). Essa demanda externa aquecida, que deve impulsionar as exportações americanas, é justificada por uma demanda chinesa inédita em termos de volume.
Após forte política de construção de estoques através de estímulo de produção local, que perdurou do início da década até 2016, a China passou a consumir parte desse volume acumulado. Porém, a safra 2020/21 registrou perdas produtivas na China (5% abaixo do ciclo anterior) e, com a demanda aquecida pela retomada do rebanho suíno após as perdas registradas pela Peste Suína Africana em 2019, os estoques chineses tinham projeções de ficar abaixo da faixa do equivalente à 70% de seu consumo, tido como limite inferior para fins de segurança alimentar.
Nesse cenário, a alternativa encontrada foi o incremento de importações que devem somar 24 milhões de toneladas no ciclo 2020/21 (outubro/20 a setembro/21) – para fins de comparação, nos últimos 10 anos, a média de importações de milho da China foi de 3,8 milhões de toneladas. Com isso, as perspectivas de estoques americanos que chegaram a apontar para o maior volume em 30 anos, agora são de contração para os menores patamares desde o ciclo 2013/14, o que deu suporte para patamares acima de US$ 4,20/bushel em Chicago.
“Esse cenário tende a perdurar ao longo de todo ano de 2021 – embora, deva ocorrer expansão de área nos EUA na próxima safra pelos níveis atrativos de preços ao produtor americano, ela deve ser limitada em até 1,2 milhão de hectares pela atratividade de margens de outras culturas, como soja e algodão”, afirma o banco.
No Brasil, essa forte alta no mercado internacional alinhada com desvalorização cambial e demanda interna aquecida resultou em cenário de preços favoráveis ao produtor para a safra 2020/21. Os contratos futuros para setembro/21, referência para comercialização da segunda safra, tiveram média de R$ 50,40/saca no período de maio a outubro/20, 36% acima do verificado nesse mesmo período de 2019 (com referência ao contrato de setembro/20). Isso impulsionou a comercialização antecipada, segundo o IMEA, 59,5% da segunda safra do ciclo 2020/21 estava comercializada até novembro/20, ante 37,2% na média das últimas 5 temporadas para esse período do ano.
A perspectiva é que o Brasil semeie 19,2 milhões de hectares de milho na safra 2020/21 (verão + segunda safra), 4,3% mais que no ciclo anterior. Assumindo a linha de tendência de produtividade, a estimativa
é que a produção alcance 107,2 milhões de toneladas. Vale ressaltar que essa expectativa de produção estará condicionada principalmente ao desenvolvimento da segunda safra.
Os níveis atrativos de preços e comercialização antecipada tendem a estimular o avanço da área da safrinha, mas o atraso na semeadura da soja pode deslocar parte significativa do plantio do milho segunda safra para próximo da parte final (ou até fora) da janela ideal de cultivo, elevando riscos de produtividade por questões climáticas. A demanda doméstica tende a seguir aquecida ao longo de 2021.
**Proteína animal **
Mesmo em meio ao cenário de elevados preços de ração, as perspectivas apontam para incremento da produção interna de proteínas animais puxado pelas exportações e por recuperação no consumo interno. Além disso, a produção de etanol de milho deve apresentar novo crescimento na ordem de 600 milhões a 1 bilhão de litros adicionais no comparativo com 2020. Dessa forma, a estimativa do Rabobank é que o consumo brasileiro de milho em 2021 fique entre 71 e 72 milhões de toneladas, ante 68,7 milhões de toneladas em 2020.
Por: Alexandro Santos
Fonte: Canal Rural