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Clóvis Tolentino Júnior.
O Brasil e os Estados Unidos são os maiores produtores mundiais de etanol, respondendo por cerca de 70% da produção global deste combustível. O Brasil lidera a produção de etanol proveniente da cana-de-açúcar e os EUA são os maiores produtores pelo processamento do milho. Com reconhecida eficácia e menor impacto ambiental, esse combustível tem um horizonte promissor à frente, e o crescimento de mais uma fonte para a sua produção, coloca o Mato Grosso do Sul (MS) e o Brasil com protagonismo ainda maior nesse cenário. Nesse material iremos discorrer sobre o contexto da produção do etanol a partir do milho e as perspectivas para o MS.
Quanto à produção nacional, podemos destacar dois eventos que favoreceram o aumento do consumo e da produção de etanol: o Proálcool na década de 80 e o advento dos carros flex fuel a partir da primeira década de 2000. Também contribuíram a busca por combustíveis obtidos de fontes renováveis e a gradativa adição de etanol na gasolina. De acordo com estudos do Instituto de Economia Aplicada (IPEA), o Brasil começou a produzir etanol de milho em 2012 no Estado do Mato Grosso. Para as usinas, a utilização do milho para produção de etanol representou a possibilidade de dispor de matéria-prima durante todo o ano, principalmente na entressafra da cana-de-açúcar, permitindo assim que a unidade industrial pudesse trabalhar em plena capacidade, além da oportunidade de comercializar mais um subproduto do processamento do milho, o farelo proteico de milho.
O processo industrial de produção do etanol no Brasil difere pouco do processo adotado nos Estados Unidos. De forma geral, o milho é moído, cozido e liquefeito em água. Em seguida segue para a etapa de fermentação que, com adição de enzimas e leveduras, transforma o amido em açúcares. A partir daí o processo segue semelhante à produção pela cana-de-açúcar (Agroicone, 2018). Como o processo de produção de etanol de milho é mais longo, tendo mais etapas, o seu custo de produção tende a ser maior. Em 2018, o IPEA estimou um custo 9% maior em relação ao etanol de cana. Contudo, com a vantagem de a usina poder reduzir sua ociosidade de funcionamento, pois não dependeria apenas da oferta de cana, há uma diluição dos custos fixos industriais.
Diante da expansão das usinas de etanol, principalmente no Mato Grosso, atualmente existem usinas que atuam apenas com etanol, as que atuam somente com cana de açúcar, e as usinas flex, que atuam com os dois produtos. Há também usinas classificadas como “completas”, geralmente menores, que são flex e integram a produção de bovinos de corte a partir da utilização do farelo de milho seco, também conhecido na sigla inglês DDG (Dried Distillers Grains), que é um subproduto rico em proteína (Ozaki, 2019, citado por Fernandes, 2019).
Comparando o rendimento das duas fontes de etanol, um hectare de cana que produzir 90 toneladas, considerando uma conversão de 85 litros por tonelada, geraria 7.650 litros de etanol por hectare. Quanto ao milho, se considerar um rendimento de 4.800 kg por hectare (80 sacos) com uma produção média de 415 litros por tonelada, obtém-se quase 2.000 litros de etanol por hectare. Observa-se que a cana possui a vantagem de possuir maior rendimento de etanol por área, porém, o milho possui um ciclo de produção mais curto (4-5 meses) e pode ser armazenado sem perder sua qualidade. Por outro lado, o seu preço enquanto commoditie pode variar bastante conforme oscilações nacionais e internacionais e, em algumas situações, inviabilizar a sua utilização.
Há um claro interesse do setor privado e público de que as usinas de etanol de milho se instalem em Mato Grosso do Sul. Em fevereiro de 2020 o Governo de Mato Grosso do Sul criou uma resolução (SEMAGRO nº 689, de 28 de fevereiro de 2020) que estabeleceu as normativas de licenciamento ambiental deste tipo de usina, deixando evidente o caminho para futuros investimentos aqui no estado. A iniciativa governamental foi acertada e oportuna, tanto é que, em fevereiro de 2021, foi anunciada a construção no Município de Dourados da primeira usina de etanol de milho de Mato Grosso do Sul.
A Inpasa Agroindustrial prevê investimentos acima de R$ 500 milhões na implantação da indústria, que também vai produzir DDG e derivados. Há uma previsão que esta usina possa produzir 426 milhões de litros de etanol ao ano e 297 mil toneladas de DDG. Para isso, deve consumir, ao longo do ano, cerca de 10% da produção estadual de milho e gerar 200 empregos diretos e outros 150 indiretos. Diante disso, a instalação deste tipo de usina em uma das principais regiões produtoras de grãos no estado representa o quanto as perspectivas para os combustíveis renováveis são otimistas, tanto no aspecto ambiental, como socioeconômico. Também cria mais uma destinação para a produção de milho, com empregos e renda.
Especificamente para os produtores rurais, essa iniciativa também é uma sinalização que os aumentos de área plantada, observados ano após ano, poderão ser absorvidos por novos mercados e novas indústrias. É importante observar que a oferta abundante de matéria-prima também é primordial para atrair investimentos e promover a agregação de valor em produtos primários. Que venham outras iniciativas como esta.
REFERÊNCIAS CITADAS
Agroícone. Análise Socioeconômica e Ambiental da Produção de Etanol de Milho no Centro Oeste Brasileiro. Disponível em http://etanoldemilho.com.br/wp-content/uploads/2018/06/Estudo_Etanol-de-Milho_Agroicone_FINAL.pdf
IEA – Instituto de Economia Agrícola. Situação Atual e Perspectivas da Produção Brasileira de Etanol de Milho. IEA, 2018. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=14464.
Fernandes, R. Avaliação da Produção de Etanol Empregando Milho Como Matéria-Prima. Universidade Federal de Uberlândia. Trabalho de Conclusão de Curso. 2019, 35p.
https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/27653/1/Avalia%C3%A7%C3%A3oProdu%C3%A7%C3%A3oEtanol.pdf
Ozaki, Paulo Moraes. Clusters de etanol de milho. Disponível em: http://www.imea.com.br/imea-site/view/uploads/estudoscustomizados/AnaliseClusterEtanolMilho.pdf.
Acesso em: 12 set. 2019.
- Engenheiro Agrônomo, Doutor em Produção Vegetal e Consultor Técnico do SENAR/MS.
Por: Alexandro Santos
Fonte: Assessoria de Comunicação do Sistema Famasul