O mercado brasileiro de biofertilizantes cresceu a taxas anuais próximas a 20% nos últimos anos e tende a avançar em torno de 10% ao ano daqui em diante, estima Mikael Djanian, sócio da McKinsey & Company. “A depender do cenário, esse crescimento pode se manter ao redor de 20%”.
A edição de 2022 do trabalho Global Farmer Insights, realizado globalmente pela McKinsey, coloca a agricultura como líder em práticas sustentáveis no mundo, com uso amplo de plantio direto, maiores taxas de utilização de controle biológico de pragas assim como de biofertilizantes. Segundo a pesquisa, 83% dos produtores adotam o plantio direto, frente a 42% na média mundial. Além disso, 55% dos agricultores brasileiros já recorrem ao controle biológico e outros 6% planejam fazê-lo. Os biofertilizantes conquistaram 32% dos produtores no país e outros 6% planejam usar a técnica, enquanto 18% utilizam o insumo no mundo todo e apenas 12% nos EUA.
A presença de solos mais antigos, que demandam mais corretivos, e o clima tropical, que favorece a incidência de pragas, explicam parcialmente o avanço dos biofertilizantes, aponta Djanian. Além disso, “o agricultor brasileiro é antenado e percebeu nos biofertilizantes uma oportunidade para melhorar a produtividade e a qualidade dos cultivos, com ganhos econômicos e ambientais”. A disparada dos preços dos fertilizantes convencionais no ano passado, acrescenta Djanian, também contribuiu para esse crescimento.
A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) registrou uma escalada nos recursos investidos em projetos de biofertilizantes apoiados pela entidade. Segundo Igor Nazareth, presidente interino da Embrapii, no ano passado, o valor dos projetos contratados já havia subido de R$ 14 milhões, em 2021, para R$ 22 milhões, saltando para R$ 20,4 bilhões apenas nos quatro primeiros meses deste ano.
Desde março de 2022, a Embrapii ampliou sua participação em projetos de biofertilizantes de 33% para 50% e definiu um novo instrumento – o Basic Funding Alliance (BFA) – para fomento a tecnologias disruptivas, de maior custo e risco mais elevado, com participação de até 90% de recursos da entidade. O maior projeto contratado nessa modalidade, no valor de R$ 15,2 milhões, dos quais R$ 13,7 milhões da Embrapii, envolve duas empresas, três startups e os centros de pesquisa ISI Biossintéticos (RJ) e ISI Biomassa (MS). A pesquisa vai testar a possibilidade de uso de algas brasileiras na produção de biodefensivos e biofertilizantes.
Depois de mais de 18 anos de pesquisa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) chegou ao BiomaPhos, um de seus produtos mais disruptivos, na descrição da pesquisadora e microbiologista Christiane Paiva, da Embrapa Milho e Sorgo. O produto reúne duas bactérias do gênero Bacillus, altamente eficientes na solubilização do fósforo presente no solo, ajudando a planta a absorver o nutriente.
Desenvolvido em parceria com a Simbiose e com a multinacional Corteva, o produto foi utilizado em 800 mil hectares em seu primeiro ano no mercado, cobertura ampliada para 2 milhões de hectares no ano seguinte, alcançando mais de 5 milhões no ciclo 2022/23, área a ser dobrada na safra 2023/24, antecipa ela. O BiomaPhos, em fase de registro nos mercados dos EUA, Argentina, México, Paraguai e Uruguai, detalha Paiva, aumenta em 19% a taxa de absorção de fosfato pela planta, gerando economia de até 20% na adubação, a depender do tipo de solo, do sistema de manejo e da cultivar adotada, além de aumentar a produtividade entre 6% e 10%.
Os avanços recentes no campo tecnológico, com surgimento de técnicas de aplicação localizada e automação dos sistemas de aspersão, observa Rogério Bremm, diretor agrícola da BP Bunge Bioenergia, permitiram o uso mais eficiente da vinhaça como biofertilizante. “Hoje temos 86% da nossa área tratada com vinhaça e nosso plano é chegar a 94% em 2025”, projeta. A aplicação do biofertilizante aumentou a longevidade do canavial, ampliando o ciclo de cortes de cinco para sete, em média, com ganho em torno de 10% em produtividade.
Fonte: Grupo Idea