A produção de cana-de-açúcar no Brasil enfrenta obstáculos climáticos e técnicos.
Como o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, o Brasil colheu aproximadamente 607 milhões de toneladas na safra de 2023/2024, conforme dados divulgados em 2024 pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Apesar desse volume expressivo, a produtividade agrícola do país é considerada baixa, alcançando cerca de 73,61 toneladas por hectare (CONAB 2024), inferior à de países com menor tradição na cultura da cana, como a Colômbia, que apresenta uma produtividade média de 93 toneladas por hectare com uma produção total de apenas 23 milhões de toneladas.
O Brasil é um país tropical, marcado por chuvas frequentes e temperaturas elevadas. Contudo, essa não foi sempre a realidade. Nas regiões produtivas de cana-de-açúcar, o clima se divide entre períodos chuvosos e secas que podem durar pelo menos cinco meses, como ilustrado abaixo. Esse intervalo seco é essencial para a colheita; entretanto, prejudica nossa produtividade nas fases intermediária e final da safra. Isso ocorre porque a cana-de-açúcar exige um ciclo mínimo de crescimento de 12 meses e não se limita apenas aos cinco ou seis meses anteriores. (Figura 01)
Figura 01. Precipitação mensal no Brasil ao decorrer dos meses
Citado por vários especialistas do setor, de todos os fatores de produção que contribuem com a produtividade da cana-de-açúcar, 50% é o clima, e como menos de 20% da área de cana-de-açúcar é irrigada com água, grande parte do sucesso da produção nacional fica à mercê das oscilações climáticas. O fator água fica tão evidente no ambiente produtivo da cultura que, na ilustração abaixo, pode-se observar a diferença da produtividade de cana-de-açúcar entre o seu potencial produtivo, sem déficit hídrico, e a média histórica da região, onde há a presença do déficit hídrico.
Fonte: Monteiro & Sentelhas, 2014
Figura 02. Diferença de produtividade “Yield gap” entre o potencial produtivo da cana-de-açúcar com a média produzida
Já superamos a metade do período de moagem para a região Centro-Sul e, em algumas regiões canavieiras, já há mais de 90 dias sem uma chuva de grandes proporções, e isso já é percebido visualmente em vários canaviais. Com certeza, diminuindo a produtividade média, como comumente ocorre (Figura 03), e provavelmente gerando muita “dor de cabeça” ao setor agrícola para abastecer as usinas e uma insegurança à indústria pela possibilidade de ficar com a moagem ociosa.
Fonte: Relatório Única 2024
Figura 03. Produtividade média de cana de açúcar no Brasil ao decorrer dos meses
Entretanto, usinas e produtores de cana-de-açúcar que investiram em irrigação, principalmente a irrigação por gotejamento, estão sentindo menos os efeitos da estiagem e demonstrando que é possível verticalizar a sua produtividade, mitigando os riscos dos efeitos climáticos.
Nas fotos abaixo, observamos, em várias regiões do país, empresas e empresários agrícolas que investiram na irrigação por gotejamento e já colhem resultados. Em alguns casos, com mais de 100% de aumento de produtividade.
Nas safras atuais, onde temos que ser cada vez mais competitivos em relação à produtividade e com isso vários outros atributos que estão ligados a ela, não existem mais espaço para erros. Se a tecnologia da irrigação existe, por que não adotá-la? Até quando seremos reféns da insegurança que o clima nos proporciona?
Eng. Agro. Daniel B. Pedroso, Especialista Agronômico Sênior da Netafim Brasil
Fonte: Netafim