17/12/2015 14h16 – Atualizado em 17/12/2015 14h16
Questionar, pesquisar, inovar e buscar soluções que contribuam com a
sustentabilidade dos solos nas lavouras foi a mensagem central do 2º Ciclo de
Palestras Agronômicas, realizado na terça-feira, 15 de dezembro, na Embrapa
Agropecuária Oeste. Cerca de 30 pessoas, entre engenheiros agrônomos e
estudantes de agronomia participaram do evento, durante toda a manhã.
Durante o evento, realizado pelo Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia (Crea-MS), por meio da Câmara Especializada de Agronomia e a
Embrapa Agropecuária Oeste, os participantes tiveram a oportunidade de obter
informações diversificadas sobre a área de solos por meio de palestras e mesa
redonda.
O Chefe Geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Guilherme Lafourcade Asmus,
parabenizou a iniciativa de reunir agrônomos com o objetivo de valorizar os
conhecimentos sobre solos, em suas diversas dimensões. O coordenador da
Câmara Especializada de Agronomia do CREA-MS, Sinval Vicenzi e o Diretor
Administrativo da Mutua/MS, Hamilton Rondon Flandoli também deram as boas
vindas aos participantes.
O solo e o agrônomo – O professor e vice-reitor da UEMS, Laércio Alves de
Carvalho, em sua palestra, intitulada ‘O Engenheiro Agrônomo e o exercício da
profissão na área de solos’, falou dos desafios enfrentados pelos novos
profissionais que hoje demandam por capacitação constante como forma de
apresentar respostas as demandas da sociedade e exemplificou “atualmente,
devido a degradação dos solos na área urbana, alguns profissionais da área de
engenharia ambiental têm buscado apoio dos engenheiros agrônomos para
ajudar a estabelecer estratégias de manejo que possibilitem a recuperação
desses solos”.
“De uma forma geral, a química e a física dos solos demandam por
profissionais capacitados e que possam oferecer respostas ao setor produtivo,
por meio de pesquisas e uso de tecnologias. Essas soluções envolvem
redução de custos e ganho de produtividade, aliado a recuperação de áreas
degradadas e devem estabelecer ainda indicadores de qualidade ambiental o
que torna os desafios dos engenheiros agrônomos ainda mais amplo”, disse
Laércio.
Uso de inoculantes microbianos – O pesquisador da Embrapa Agropecuária
Oeste, Fábio Martins Mercante, falou sobre ‘O uso potencial de inoculantes
microbioanos na agricultura brasileira’. Segundo ele, numa média de dez safras
de soja, o uso de inoculante aplicado a cada ano proporcionou um ganho de
produtividade em torno de 9%, no Mato Grosso do Sul. Em sua palestra, ele
esclareceu conceitos e usos de bactérias fixadoras e associativas, que
contribuem com o fornecimento de nitrogênio e promoção do crescimento das
plantas em cultivos agrícolas.
“No Brasil quase 30 milhões de doses de inoculantes são comercializadas por
ano, sendo 90% somente nas lavouras de soja”, disse. Segundo Fábio, o
potencial de uso de inoculantes nas lavouras brasileiras é muito maior e
poderia ser mais bem aproveitado, pois existem mais de 150 estirpes de
bactérias autorizadas para quase 100 leguminosas e outras não-leguminosas
incluindo: feijão, amendoim, caupi, milho, trigo, arroz, entre inúmeras outras.
Outro assunto foi a compatibilidade entre a inoculação e uso de fungicida em
sementes de soja. “Geralmente, a bactéria presente no inoculante não
sobrevive quando o produto é aplicado na mistura com o fungicida, conhecida
popularmente conhecida como “sopão”, por isso, sempre que for usar o
fungicida, é preciso deixar para aplicar o inoculante na etapa posterior (após o
tratamento com o fungicida)”, explicou Fábio.
Agrotóxicos – Em sua fala, por sua vez, o pesquisador da Embrapa
Agropecuária Oeste, Rômulo Penna Scorza Júnior, explicou alguns conceitos
relacionados ao comportamento ambiental de agrotóxicos. Ele esclareceu
alguns critérios que precisam ser considerados nas pesquisas de impactos do
uso dos agrotóxicos, como forma de contribuir com a sustentabilidade e que
norteiam os trabalhos que ele desenvolve na Unidade. Em sua palestra ele
explicou de que forma pode ocorrer transporte dos agrotóxicos das lavouras
para as águas superficiais ou para o lençol freático.
Segundo ele, existem três tipos de transporte predominante de agrotóxicos. Um
deles é o escoamento superficial, ou seja, transporte dos agrotóxicos
juntamente com a água da enxurrada e sedimentos. “Nesse aspecto, o plantio
direto é uma das práticas de manejo que minimizam a formação de enxurradas
e contribuem com a redução desse tipo de transporte”, explicou ele.
O outro é a volatilização, que transporta de fase liquida para a fase gasosa,
saindo do solo ou planta para atmosfera, porém poucos agrotóxicos são
voláteis. Segundo Rômulo, pesquisas sobre a possível contaminação da água
das chuvas poderiam ou não indicar a presença de resíduos de agrotóxicos.
Finalmente, o processo de transporte pode ocorrer por meio da lixiviação, ou
seja, quando a água que filtra no solo, chega ao lençol freático. Mas, as
pesquisas tem revelado que esse é um tipo de transporte pouco frequente nos
caso dos agrotóxicos pesquisados em nossa região.
O comportamento dos agrotóxicos no solo varia de acordo com alguns fatores:
1) estrutura química e propriedade dos compostos; 2) características físicas,
químicas e biológicas do solo e 3) condições ambientais (clima). Outros
aspectos pesquisados são tempo de permanência dos agrotóxicos no solo, que
varia muito de acordo com o tipo de agrotóxico e coeficiente de adsorção à
fase sólida do solo (Kd). Segundo ele, os agrotóxicos com valores baixos de Kd
são mais fáceis de serem lixiviados e os agrotóxicos com Kd superiores
tendem a se fixarem mais ao solo e, geralmente, são transportados via
escoamento superficial.
Outra importante informação se refere ao processo de degradação de
agrotóxicos em sistemas integrados de produção, que em geral, apresentam
aumento da atividade microbiana no solo ao longo do tempo. Os resultados das
pesquisas demonstram que o uso dos sistemas integrados de produção
reduziu a persistência dos agrotóxicos no solo quando comparados com o
sistema convencional.
“Hoje, temos mais de 300 ativos de agrotóxicos no mercado, interagindo com
diferentes tipos de solos, variações climáticas, aliado ao elevado custo da
pesquisa e o elevado tempo investido na instalação de experimentos e
validação de metodologias que não possibilitaram resultados eficientes. Por
isso, acredito na modelagem matemática e simulação do comportamento dos
agrotóxicos, onde equações e informações de princípios ativos e dados
climáticos estão reunidas, associadas aos modelos de comportamento dos
agrotóxicos. Esse é o objetivo do Acha, sigla de Avaliação da Contaminação
Hídrica por Agrotóxico, programa computacional que simula o comportamento
ambiental de moléculas de agrotóxicos em cenários agrícolas brasileiros, com
baixo custo, mais agilidade na avaliação dos resultados”, disse ele.
Evento – O engenheiro agrônomo graduado há 43 anos e que atua na
Secretaria de Agricultura Familiar de Dourados, José Joaquim de Souza,
participou do evento e parabenizou a iniciativa e disse “na agronomia é
fundamental que o agrônomo aprofunde seus conhecimentos em solo, pois ele
é um dos principais recursos para se produzir. A parceria entre a Embrapa e o
CREA-MS, fez a diferença e possibilitou uma reciclagem em pouco tempo de
conversa. Foi muito interessante essa abordagem, que falou de degradação
biológica e química e não ficou apenas num olhar de degradação física”,
completou ele.
“Foi uma oportunidade de recapitular o que está acontecendo na prática de
trabalho cotidiana dos engenheiros agrônomos, tanto para os agrônomos que
estão trabalhando nas lavouras quanto para aqueles que estão trabalhando no
comércio de insumos, entre outros. A preocupação da sociedade com a
conservação do solo é o que nos estamos precisando. Os dados técnicos e
consistentes que tivemos acesso hoje são algumas das informações que fazem
diferença para nós”, enfatizou o engenheiro agrônomo formado há 24 anos e
que trabalha no mercado de comercialização de máquinas agrícolas, Raul
Campos.