26/04/2016 13h04 – Atualizado em 26/04/2016 13h04
O secretário executivo do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Cléber Buzatto, se esquivou da maioria das perguntas dos parlamentares integrantes da CPI que investiga se a organização incentiva e financia invasões de propriedades particulares em Mato Grosso do Sul.
Questionado sobre a presidente do colegiado, deputada Mara Caseiro (PSDB), sobre seu posicionamento e do próprio Cimi acerca das invasões, Buzatto disse que prefere não fazer juízo de valor sobre o tema. Ele garantiu que essa é uma iniciativa dos povos indígenas.
Entretanto, em uma entrevista concedida por ele na Alemanha, afirmou que os problemas dos indígenas devem ser solucionados com organização, enfrentamento, luta e forte mobilização. Também disse, na mesma ocasião, que o Cimi é parceiro nesse processo.
Ao ser indagado sobre tal entrevista, se esquivou mais uma vez e disse que talvez tenha feito tais declarações.
Também se esquivou ao ser perguntado sobre a aplicação de recursos recebidos, sobretudo de organismos internacionais. Alguns repasses, conforme documentos em poder da comissão, têm carimbo específico para “apoio a retomada de terras”, “apoio agrícola” e “manutenção de retomadas”.
Porém, limitou-se a afirmar que o referido contrato é datado de 2002 e que a gestão desses recursos foi feita pelos então dirigentes do Cimi em Mato Grosso do Sul, Nereu Schneider e Olívio Mangolin.
Buzatto também admitiu que o Cimi esteve envolvido diretamente na campanha de boicote à carne e à soja de Mato Grosso do Sul, que incentivava países estrangeiros a não consumir as commodities do Estado por estarem sujas com o sangue de crianças indígenas.
O executivo da instituição disse que o Cimi só parou de divulgar e participar da campanha a mando do comando da igreja católica em Mato Grosso do Sul.
“As pessoas têm direito de saber o que estão consumindo, de que há sofrimento dos povos indígenas. Apoiamos politicamente a campanha e fizemos divulgação. Então tivemos um processo de discussão que envolveu uma posição da diocese e da CNBB [Confederação Nacional dos Bispos], que aportou críticas a essa campanha. Vocês sabem que somos vinculados à Igreja, e nós respeitamos essa posição dos bispos locais, portanto acabamos não dando seqüência”, afirmou.
Para Mara Caseiro e Paulo Corrêa (PR), relator da CPI, trata-se de uma campanha sensacionalista e repugnante, que só trouxe prejuízos à imagem do agronegócio do Estado.
A deputada também questionou Buzatto sobre ações concretas do Cimi, sobretudo na área social, realizadas dentro das aldeias, uma vez que a maioria dos indígenas convocados a depor na comissão afirmou desconhecer qualquer projeto nesse sentido.
Além da participação do Cimi em comissões que apenas discutem a situação dos indígenas em âmbito nacional e internacional, o secretário do Cimi citou apenas um projeto desenvolvido na aldeia Panambizinho, em Dourados, onde há ações voltadas à segurança alimentar e sustentabilidade de 80 famílias.
“Nós fazemos muito com muito pouco”, limitou-se a explicar.
Mara Caseiro apresentou ainda ao secretário executivo do Cimi denúncias entregues à CPI por indígenas, envolvendo o advogado Luiz Henrique Eloy, que estaria promovendo discórdia em aldeias do Estado. Outra denúncia é de que o Cimi estaria financiando a compra de armamento no Paraguai para abastecer a aldeia Buriti, na região de Sidrolândia. Ele negou todas as informações.
PRÓXIMOS PASSOS
As duas últimas oitivas da CPI do Cimi devem acontecer nos dias 25 e 27. Na próxima segunda-feira, devem ser ouvidos Lindomar Pereira, Rogério Batalha, Flávio Machado, Ramiro Luiz Mendes, Enedino da Silva, Mauro Paes e as irmãs Joana Ortiz e Michael Mary Nolan.
Até o dia 11 de maio, deve ser apresentado o relatório final.