17/11/2020 16h23 – Atualizado em 17/11/2020 16h23
Imagem: Gazeta do Campo
A Embrapa e a Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira) assinaram nesta terça-feira (17/11) acordo de cooperação técnica para implantação de uma Unidade Mista de Pesquisa e Inovação (Umipi), com sede no Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec/Ceplac), em Ilhéus (BA). A Umipi Cacau vai centralizar os estudos científicos nessa área, abrangendo também os estados de Pará e Rondônia. O objetivo é fortalecer as ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) em prol da cadeia produtiva de cacau no Brasil, o que envolve ainda a criação de um portfólio para garantir os trabalhos em parceria já existentes e incentivar a formação de novos projetos voltados à essa cultura.
O documento – assinado pelo secretário de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SDI/Mapa), Fernando Camargo; pelo presidente da Embrapa, Celso Moretti; pelo diretor da Ceplac, Waldeck Araújo; e pelo diretor-executivo de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Guy de Capdeville – institui a sexta estrutura desse tipo na Embrapa, somando-se à GenCima (Campinas, SP), Sudoeste do Paraná (PR), Balsas (MA), Automação (São Carlos, SP) e Cinturão Citrícola (sediada nos municípios de Araraquara e Bebedouro, região citrícola do Estado de São Paulo).
Segundo Camargo, “o ACT Embrapa/SDI-Ceplac é a confirmação do empenho da gestão da Ministra Tereza Cristina em fortalecer a cacauicultura brasileira. Temos de incrementar a pesquisa e desenvolver novos clones, mais produtivos e resistentes às pragas. Temos convicção que esse será o início da retomada do Brasil como grande produtor mundial”.
As Umipis da Embrapa são estruturas colaborativas de trabalho, que funcionam a partir do compartilhamento de instalações e conjugação de esforços técnicos, científicos, materiais, operacionais e de recursos humanos com instituições parceiras para o desenvolvimento de ações de pesquisa e inovação voltadas à resolução de problemas específicos da agropecuária brasileira. Saiba mais sobre as Unidades Mistas aqui.
A nova Unidade vai trabalhar em quatro frentes relacionadas à cacauicultura: recursos genéticos, melhoramento genético, manejo do cacau, e controle de doenças e, para isso, envolve inicialmente, quatro unidades descentralizadas – Mandioca e Fruticultura, Amazônia Oriental, Rondônia e Recursos Genéticos e Biotecnologia, mas o objetivo é estender a participação para outras UDs.
Essas áreas de atuação foram definidas a partir de visitas técnicas realizadas por uma comissão de integrantes do Mapa e da Embrapa às instalações da Ceplac em três principais regiões produtoras de cacau no Brasil: Bahia (Ilhéus), Rondônia (Ouro Preto do Oeste) e Pará (Belém e Marituba).
Segundo o secretário de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Bruno Brasil, e a gerente de Inteligência e Planejamento da Programação da Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento (SPD), Adriana Accioly, que fizeram parte do grupo, as visitas permitiram identificar as principais lacunas e potenciais oportunidades de contribuição da Embrapa para alavancar a cacauicultura nacional. Participaram também: o diretor da Ceplac, Waldeck Araujo Júnior; o diretor do Departamento de Desenvolvimento das Cadeias Produtivas do Mapa, Orlando Castro; e os pesquisadores da Embrapa Carlos Ledo (Mandioca e Fruticultura), Walkymário Lemos (Amazônia Oriental) e Frederico Botelho (Rondônia).
O diretor da Ceplac espera que a união da expertise da Comissão com o conhecimento multidisciplinar da Embrapa resulte em benefícios em prol da cadeia do cacau e da sociedade brasileira de forma geral. “Nosso objetivo é que o Brasil deixe de ser importador de cacau e amplie sua exportação de cacau fino, derivados e chocolate”, conclui
União de expertises para alavancar a cacauicultura nacional
A expectativa da Embrapa e da Ceplac é que a nova Umipi contribua com soluções tecnológicas para alavancar a produção de cacau no Brasil. As pesquisas de recursos genéticos disponibilizam uma base genética, a partir da qual será possível identificar variedades com características de interesse agronômico para utilização em programas de melhoramento genético. O objetivo é direcionar essas iniciativas para desenvolver cultivares resistentes às doenças fúngicas (vassoura-de-bruxa e monilíase) e com potencial de valor agregado para atender ao mercado de chocolates finos. “Ou seja, são áreas que se entrelaçam e se somam em prol do crescimento cadeia produtiva do cacau no País”, pontua o coordenador-geral de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Ceplac, Manfred Müller.
O Brasil, que já foi o segundo maior produtor mundial de cacau, figura atualmente na sétima posição no mercado mundial. Grande parte dessa queda se deve à incidência, do fungo Moniliophtora perniciosa, causador da doença conhecida como vassoura-de-bruxa, na região cacaueira da Bahia.
Segundo Müller, essa doença levou a uma derrocada drástica da produção brasileira de cacau, de 450 mil toneladas na década de 1980 para cerca de 240 mil em 2019, de acordo com dados do IBGE. “A Bahia, severamente afetada pela vassoura-de-bruxa, não se recuperou até hoje e, atualmente, é a segunda maior região produtora em nível nacional, com cerca de 110 mil toneladas, atrás do Pará, que produz aproximadamente 111 mil toneladas”, explica. Depois, vem Espírito Santo, Rondônia, Amazonas e Mato Grosso.
Para a gerente de Articulação de Redes de P&D da SPD, Mírian Eira, por isso é muito importante que a nova Unidade abranja pesquisas das três regiões, pois cada uma delas possui bancos genéticos com características diferentes, além de acessos importados de outros países, ‘e a diversidade genética é fundamental para o êxito dos trabalhos de melhoramento”, complementa.
Portfólio Cacau: inovação e competitividade
Paralelamente à criação da Umipi, foi instituído também o portfólio Cacau. A iniciativa é resultado de um grupo de trabalho formado por representantes de ambas as instituições, com o objetivo de elaborar propostas de projetos de pesquisa, a serem custeadas pelo Mapa. O novo portfólio é um dos 34 que embasam o atual modelo de gestão da Embrapa, dividido em grandes áreas de pesquisa. Saiba mais sobre esses instrumentos de gestão aqui.
O objetivo é desenvolver soluções de inovação a partir da geração de ativos tecnológicos para a cadeia do cacau, proporcionando diferencial de produção, recuperação do mercado internacional e desenvolvimento de novos produtos derivados. Esse portfólio deve ampliar a competitividade de negócios baseados no cacau e subsidiar políticas públicas para essa cadeia produtiva.
Os projetos serão voltados a quatro temas prioritários: preservação de recursos genéticos de cacau in situ (nos bancos de germoplasma) e ex situ, em coleções in vitro; melhoramento genético do cacau; geração de soluções tecnológicas para o controle da monilíase e da vassoura-de-bruxa; e desenvolvimento de processos relacionados ao manejo do cacau no âmbito de sistemas agroflorestais e integrados.
Por: Alexandro Santos
Fonte: Embrapa