25/07/2021 23h48 – Atualizado em 25/07/2021 23h48
A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) – Unidade Universitária de Dourados tem desenvolvido diversas pesquisas alinhadas às soluções de destinação de materiais com foco na sustentabilidade, seja na área agrícola ou na área de infraestruturas, com o reaproveitamento de resíduos da construção civil. Projetos desenvolvidos pelo Centro já foram premiados em nível regional, com o Troféu Marco Verde, concedido pelo IMAM/Dourados, em 2018; e em nível nacional, com a premiação na 9ª Edição do Prêmio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável, em 2017.
Não é de hoje que o Centro de Pesquisas em Materiais (CEPEMAT) da UEMS de Dourados realiza estudos para reaproveitamento de materiais de diversas origens, alavancando metodologias tecnológicas que garantam a produção de produtos experimentais sob o conceito da chamada “infraestrutura sustentável”. Nessa linha de pesquisa, um projeto de Iniciação Científica da acadêmica Jéssica Jaques de Souza, do 4º curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, sob orientação do prof. Me. João Victor Maciel de Andrade Silva, tem ganhado destaque ao se debruçar sobre técnicas de produção e aprimoramento de concreto poroso – ou “concreto permeável”, termo técnico mais utilizado.
O trabalho vem sendo desenvolvido desde 2020, sob o título “Substituição Parcial de Agregados por Resíduos de Construção e Demolição na Produção de Concreto Permeável”. Desse modo, a importância da pesquisa configura-se frente ao fato de que, nas grandes cidades, o problema da deficiência de planejamento aliado ao crescimento desordenado de expansão urbana, além de comprometer a saúde e o meio ambiente, se configura como ameaça aos recursos hídricos, ao solo e à vegetação.
Sob tal perspectiva, o tradicional sistema de drenagem, presente na maior parte das regiões urbanas no Brasil, ocasiona determinados resultados como enchentes e alagamentos, resultantes, por sua vez, de vazões de pico e uma redução no tempo de escoamento. Os noticiários durante as chuvas de verão, se tornaram recorrentes na memória de grande parte da população, materializando prejuízos de ordem estrutural, financeira e até de vidas humanas.
“Estamos desenvolvendo esse projeto há pouco mais de um ano e a ideia principal é produzirmos um concreto que tenha espaços vazios em sua parte interna. Estes espaços permitem a percolação da água dentro do concreto. Dessa maneira, conseguimos utilizar um material resistente e que garante que a água se infiltre no solo, sem que isso cause qualquer impacto no sistema público de coleta e transporte de águas pluviais. A aplicabilidade, por exemplo, pode ser desde praças, a trechos de calçada onde transitam pessoas e automóveis”, explica o docente e pesquisador da UEMS. De acordo com João Victor, o mote da pesquisa é a sustentabilidade, sendo que este tipo de abordagem é trabalhado em outros países, o trabalho da UEMS pioneiro no Estado de Mato Grosso do Sul.
“Precisamos encontrar solução para as regiões de alta concentração urbana. Sendo assim, esta pesquisa tem um forte viés ecológico e sustentável, sobretudo com o reaproveitamento de materiais de construções, uma etapa mais à frente deste estudo, materiais produzidos com sobras da construção civil. São duas frentes: garantir o aumento da percolação da água em vias públicas e reaproveitar o descarte de obras urbanas”, orienta o pesquisador do CEPEMAT. É uma solução prática e efetiva para amenizar e até mesmo extinguir riscos de alagamentos.
O promissor projeto de Iniciação Científica, trabalhado nos laboratórios do CEPEMAT reflete a importância da política de incentivo da Universidade, por meio do Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC) da UEMS, que oferta bolsas aos acadêmicos e acadêmicas da instituição. Os editais PIBIC são administrados e gerenciados pela Pró-reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação (PROPPI) e recebem propostas de professores e discentes que desejam participar. Os processos são desenvolvidos em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Um pouco sobre Teoria das Estruturas
No curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, a disciplina de Teoria das Estruturas é obrigatória e visa fornecer ao estudante conhecimentos básicos dos princípios energéticos que regem o comportamento de estruturas e seus elementos, submetidos às solicitações usuais. A acadêmica autora do projeto de IC informa que teve contato com o tema em 2018 e logo começou a tomar contato com o conceito de concreto permeável, por meio do orientador. “Me interessei muito pelo assunto e, inclusive antecipei disciplinas para buscar compreender melhor a dinâmica. Assim, estudei conceitos da mistura que forma o concreto e das influências de seus componentes, como a brita, areia e o aspecto geral da matriz cimentícia”, detalha a acadêmica da UEMS.
De acordo com ela, a pandemia impactou o desenvolvimento do projeto de iniciação científica e atrasou etapas. “Tivemos receio. Se conseguiríamos finalizar o projeto de pesquisa, tanto que o resíduo de construção civil (denominado RCD) era para constar nesse primeiro projeto, porém, com as limitações da pandemia tivemos que substituir este item pela brita. Com a continuidade dessa pesquisa, via o projeto subsequente de IC, denominado “Análise da Influência da Utilização de Agregados Reciclados em Concretos Permeáveis”, poderemos testar a resistência de produtos desenvolvidos com restos de descarte de obras urbanas”, explica Jéssica. De acordo com ela, a alta permeabilidade dos tijolos porosos, desenvolvidos com brita no primeiro projeto apresentou uma resistência que será fortalecida nas análises vinculadas a este segundo projeto.
É preciso testar e aprimorar a resistência
“A importância dos testes de resistência é fundamental para prosseguirmos com a pesquisa, é preciso equipamentos para a realização de experimentações mecânicas mediante aplicação de peso sobre os materiais desenvolvidos no laboratório a fim de determinar suas respectivas resistências. Atualmente, temos uma demanda por um aparelho denominado Máquina Universal de Ensaio de Resistência (MUER), uma prensa hidráulica de altíssima pressão, e esperamos que, dentro em breve, esse material esteja disponível em nosso Laboratório. Além destes testes vinculados às experimentações de ordem científica, um item como a MUER irá conferir à UEMS a possibilidade parcerias público-privadas para atendimento de construtoras e demais empresas do setor de construção e infraestrutura da região”, pondera o docente João Victor.
A reutilização de materiais para elaboração de itens como concreto, lajotas e demais produtos correlatos tem sido foco dos trabalhos do CEPEMAT nos últimos anos. Uma diversidade de itens já foi testada considerando a sustentabilidade por meio do reaproveitamento de resíduos de descarte. De garrafas plásticas “pet” aos restos de bagaço de cana-de-açúcar. De lixo eletrônico, composto por peças descartadas de computadores a garrafas de vidro longneck. O próximo tem que entrará na mira de nossos pesquisadores serão as bitucas de cigarro. Qual seria a resistência destes itens?
O CEPEMAT
O CEPEMAT está localizado na Unidade Universitária da UEMS de Dourados. É um Centro de Ensino, Pesquisa e Extensão, constituído conforme legislações vigentes específicas dos Centros de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPEX) da Universidade. O Centro tem por objetivo promover o desenvolvimento e a promoção de atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão, bem como ações de Assessoria e Consultoria para o fortalecimento e cooperação entre a UEMS e outras instituições públicas e privadas.
O CEPEMAT atua nas linhas de pesquisa vinculadas ao estudo, desenvolvimento, caracterização e reciclagem de materiais. De acordo com o prof. Dr. Aguinaldo Lenine, o CEPEMAT cumpre um papel
importante voltado à reutilização de materiais, com professores que estudam . “Dentro das pesquisas com uso de resíduos, já tivemos experimentações para reutilização de descarte de seringas, de garrafas Pet e de cinzas do bagaço de cana na produção de concreto. Não se trata simplesmente de substituir, jogar estes resíduos junto ao concreto. Os testes e pesquisas mostram que há viabilidade de serem realmente aproveitados, assim, ao invés destes materiais irem para o lixo, está provado que podem ser reutilizados”, explicou o docente da UEMS.
Atualmente, o CEPEMAT é formado por um grupo de sete professores pesquisadores e de uma técnica que atua no suporte administrativo. A coordenação do Centro é exercida pelo prof. Dr. Dalton Pedroso de Queiroz. Para mais informações, acessar o link da página do CEPEMAT.
Comunicação UEMS