27/09/2021 20h33 – Atualizado em 27/09/2021 20h33
Imagem: Gazeta do Campo
Foi graças aos imigrantes do leste europeu que Mandirituba recebeu, ainda no início do século 20, as primeiras sementes da flor amarela e branca que dá fama ao município: a camomila. Após décadas de cultivo, a cidade da Região Metropolitana de Curitiba hoje é conhecida como a capital da erva medicinal, liderando a produção no Estado.
“Se você tem camomila em casa, a chance de ela ser de Mandirituba é grande”, resume a secretária municipal de Agricultura de Mandirituba, Alessandra Clemente. O município é o maior produtor paranaense tanto em área como em produtividade. Segundo a Secretaria estadual da Agricultura e do Abastecimento, foram 280 toneladas da erva produzidas em 2020, gerando um Valor Bruto de Produção (VBP) de R$ 6,64 milhões – 11,93% do total do município.
Com campos floridos aromáticos e uma cultura sólida, hoje o potencial da camomila no município também é turístico. Mas, no início, seu plantio era rudimentar: a cultura começou há cerca de cinco décadas de forma manual, com áreas pequenas e colheita manual. Aos poucos, os produtores receberam incentivos de uma empresa privada que se instalou na região, fomentando o cultivo e multiplicando os interessados. Com isso, a tecnologia aos poucos passou a aumentar a produtividade.
“No início, se faziam pequenos canteiros, tirando mudas para aproveitar melhor a produção. A gente usava uma caixa com um pente de pregos para colher as flores. Com o passar do tempo e áreas maiores, tudo foi se desenvolvendo. Veio a tração animal e, depois, o trator, que até hoje é a máquina colheitadeira”, conta o produtor José Mario Claudino. Nascido na cidade, assim como seu pai, ele herdou a cultura da família – e pretende repassá-la às próximas gerações.
Atualmente, ele planta cerca de 20 alqueires de camomila, obtendo uma produtividade de cerca de uma tonelada de camomila seca por alqueire. Toda a produção é realizada por ele, a esposa e os quatro filhos. “A gente trabalha com produção familiar, então todos são envolvidos. É um grande prazer ter a família unida pelo trabalho”, comenta.
CULTURA DE INVERNO – Uma das características apontadas para o sucesso da produtividade na cidade é o clima frio da região, que favorece o florescimento durante o inverno. O ciclo da camomila dura cerca de cinco meses: é plantada entre abril e maio para ser colhida entre agosto e setembro. Ela se encaixa no calendário dos agricultores locais.
“Aqui se criou essa tradição para camomila. Ela se adaptou bem por ser de inverno. É uma opção de rotação de culturas, já que no verão se planta milho e soja”, explica Marcos Antônio Dalla Costa, técnico da Secretaria de Agricultura de Mandirituba e mestre em Produção Vegetal de Camomila pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Hoje são cerca de 40 produtores espalhados por uma área de 730 hectares de plantio. Em sua maioria, eles possuem infraestrutura e expertise para beneficiá-la. “95% deles têm uma estrutura pronta: produção da semente, plantio, colheita e estrutura de classificação, secagem e armazenamento. O ciclo completo”, ressalta o especialista.
Da colheita, são retirados dois tipos de camomila: a de primeira, com maior concentração de flores, e a mista, que inclui talos e outros pedaços da planta, comercializada pela metade do preço. Nos últimos dois anos, com a pandemia, a alta na demanda e no dólar fez o preço da erva triplicar, passando de R$ 10 para R$ 30 o quilo da camomila seca de primeira.
Produtor há 35 anos, Mario Strugala viu a vantagem financeira crescer durante a emergência sanitária. Com uma produção de 20 alqueires, ele estima uma boa safra em 2021. “Neste ano vamos produzir bem, porque o clima está favorável, com pouca chuva. E flor quer o quê? Claridade e calor. A camomila deste ano tem muita qualidade, está bonita. O clima favorece a produção”, endossa.
Na propriedade trabalham ele e mais cinco funcionários. Dois deles são seus futuros herdeiros – o filho e o sobrinho. “Se for comparar com outra cultura, a camomila dá mais lucro, compensa para quem tem a estrutura de secador”, acrescenta.
EXPANSÃO DO TURISMO – Dalla Costa aponta que o principal uso da camomila no Brasil é na área medicinal, por suas propriedades anti-inflamatórias. Em menor escala, a erva medicinal também é aproveitada na indústria de cosméticos.
No entanto, um terceiro pilar econômico que a camomila traz para Mandirituba é o turismo, atraído pela beleza dos campos. A secretária de Agricultura conta que não é raro ver piqueniques e ensaios fotográficos sendo feitos nos sítios, atraindo pessoas de toda a RMC.
Para impulsionar ainda mais a fama do município, a prefeitura busca um reconhecimento que promete catapultar tanto a camomila como produto quanto o turismo local: o registro de Indicação Geográfica. Concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial, o selo contempla produtos que apresentam uma qualidade única, fazendo uma distinção de seus concorrentes no mercado.
Para obter a certificação, a Secretaria de Agricultura fez uma parceria com o Sebrae. “Além de agregar valor, ganha a confiabilidade da população por um selo que garante uma camomila diferenciada pelo solo, clima e boas práticas de produção. Estamos buscando essa indicação geográfica para levarmos o nome do município ainda mais longe”, explica Clemente.
PRODUÇÃO PARANAENSE – No Paraná, em 2020, foram produzidas 970,7 toneladas de camomila, gerando um Valor Bruto de Produção de R$ 23 milhões. Apesar de produzida por 17 municípios paranaenses, é na Região Metropolitana de Curitiba que ela se concentra: a região é responsável por 97,5% de toda a erva medicinal do Paraná.
A lista é liderada por Mandirituba e seguida por São José dos Pinhais e Campo do Tenente, mas também engloba outras seis cidades da RMC: Lapa, Quitandinha, Fazenda Rio Grande, Campo Largo, Contenda e Araucária.
Por: Alexandro Santos
Fonte: Secretaria de Agricultura do Para