Imagem: Gazeta do Campo
A América do Sul deverá trazer ao mercado 212,5 milhões de toneladas de soja na temporada 2021/22, de acordo com a estimativa da Cogo Inteligência em Agronegócio, um incremento de 8,5% em relação a 2021/22, respondendo por cerca de 55% da oferta global. São 63,8 milhões de hectares a serem cultivados com a oleaginosa, em uma área que deverá ser 3% maior do que a anterior. E com estes números, o foco do mercado sobre a produção sul-americana cresce neste momento.
**As condições de clima passam a ser monitoradas ainda mais constantemente e ganham espaço grande no radar dos traders, inclusive na Bolsa de Chicago. **
No Brasil, o plantio segue acontecendo em ritmo recorde e já caminha para a fase final. De acordo com os últimos números da Pátria Agronegócios, são 86,73% da área já semeada no país, contra 78,85% do ano passado e 72,84% da média dos últimos anos. Em Mato Grosso, maior estado produtor de soja do Brasil, o plantio está concluído em 99,81%.
“O destaque fica para a desaceleração dos trabalhos de campo em Goiás, Tocantins e partes de Minas Gerais pelo excesso de chuvas, enquanto que o Rio Grande do Sul segue sofrendo com algumas regiões com a falta de precipitações”, explica o time da Pátria. O estado gaúcho já semeou 52% de sua área estimada.
Com um início excepcional da safra 2021/22 no Brasil, como explica Matheus Pereira, diretor da consultoria, “o mercado já colocou uma safra de verão cheia como expectativa”. A produção deve ser recorde e superar as 140 milhões de toneladas. Na projeção da Pátria são 144,77 milhões de toneladas.
“Esse é um número que só trabalha com a variação de área. Ainda não trouxemos mudanças na produtividade. Nossa produtividade hoje ainda é estimada em 3,54 toneladas por hectare, porque ainda vemos que é bastante prematuro estimar rendimento visto que o plantio ainda nem terminou no país”, diz o diretor da Pátria.
Já para a Cogo Inteligência, a estimativa é de 145,6 milhões de toneladas a serem colhidas nesta temporada.
“O mercado de soja em Chicago agora totalmente focado na safra sul-americana! As variações climáticas se tornarão o centro das atenções especulativas”, explica Pereira. Afinal, se no Brasil tudo caminha bem, ou quase tudo, na Argentina as atenções estão redobradas frente ás previsões climáticas de longo prazo.
Nas últimas 72 horas, as chuvas foram bastante pontuais nas regiões produtoras da Argentina, segundo informações levantadas pelo Commodity Weather Group (CWG), bem como em áreas do Sul e Sudeste do Brasil. E para os próximos dias, as condições esperadas são semelhantes como mostram os mapas abaixo. Para o período dos próximos 11 a 15 dias, área com chuvas abaixo da média fica ainda mais extensa, pegando partes do Centro-Oeste do Brasil, como partes do estado de Mato Grosso do Sul.
Afinal, 32% da área estimada de soja argentina já foram semeados, de acordo com os últimos números do Ministério da Agricultura do país, número em linha com o registrado no mesmo período do ano passado. O destaque fica para a província de San Luis, onde 48% da área de soja já foi plantada. E assim, são necessárias condições de clima adequadas para a conclusão dos trabalhos de campo e o desenvolvimento das lavouras.
“Em várias regiões produtoras o plantio se acelerou nas últimas semanas, à exceção das áreas menos beneficiadas pelas chuvas, mas para onde se espera uma melhora da umidade que possa promover uma aceleração da semeadura”, informa o boletim do ministério.
E é frente a isso o que o mercado internacional deverá intensificar suas especulações. “Há áreas que presenciam um atual momento de ansiedade com a falta de reposição dos níveis de umidade do solo à patamares ‘confortáveis’, com chuvas ainda, ‘na medida”, como acredita Pereira. “Ou seja, a permanência do padrão mais seco nestas regiões trará muita “munição” ao mercado”, completa.
E a Pátria não acredita que essa melhora do clima, em áreas específicas que começam a refletir esse cenário, não deverá ser duradoura, “especialmente sob um regime consecutivo da La Niña”.
A safra de soja da Argentina é estimada pela Pátria em 49,5 milhões de toneladas, e pela Cogo Inteligência em Agronegócios, 50 milhões. E para Carlos Cogo, ainda é cedo pensar em perdas expressivas na safra do país sul-americano já que o plantio está no início e todo o desenvolvimento das lavouras ainda para acontecer.
No entanto, o executivo pontua suas preocupações maiores com a redução de área cultivada com soja por lá. “A área vem caindo nas últimas quatro safras na Argentina. E recuou também nas safras 2015/16, 2016/17, deu uma pausa em 2018/19, depois voltou a cair novamente”, disse. E isso pode pesar ainda mais sobre a nova oferta sul-americana, ao menos por agora, do que pelo clima em sua análise.
Cogo destaca a fragilidade da economia, os inúmeros problemas da carga tributária e todo o cenário e pouco estimulante que se desenha para o produtor local. Para algumas associações de classe locais, a área ocupada com soja na Argentina deverá ser a menor em 15 anos.
Por: Alexandro Santos
Fonte: Notícias Agrícolas